Há retornos que são apenas logísticos. Outros, são quase litúrgicos. A volta de Neymar ao Santos (ou ao Santos de Neymar) não foi apenas um movimento esportivo. Foi o Brasil tentando se reconciliar com um de seus filhos mais controversos e brilhantes. E talvez, mais uma vez, tentando encontrar no passado aquilo que o presente insiste em não entregar.
Neymar não voltou como menino da Vila. Voltou como homem globalizado, milionário, calejado por contusões e polêmicas. Voltou maior que o clube e essa, talvez, seja a tragédia silenciosa da história. Porque a camisa que o revelou ao mundo agora precisa dele mais do que ele precisa dela. E isso inverteu tudo. Inverteu o peso, a narrativa e o afeto.
O retorno, claro, veio embalado em nostalgia e storytelling. Vídeos antigos, gols com trilha épica, crianças vestindo a camisa do craque com brilho nos olhos. Mas por trás desse verniz emocional, houve algo mais profundo e mais incômodo: a tentativa de redenção pública de um jogador que, por anos, foi amado, depois tolerado, depois questionado. E que agora tenta reencontrar o aplauso perdido.
A psicanálise talvez dissesse que todo retorno é uma tentativa de cura. De resgatar aquilo que se perdeu pelo caminho. Mas o futebol, como a vida, não é um álbum de memórias. É movimento, disputa, desgaste. O Neymar que voltou ao Santos não é o de 2010. É o Neymar de 2025, mais cínico, mais cobrado, mais humano. E é por isso que o retorno emociona e incomoda ao mesmo tempo.
Em cena, temos um jogador tentando mostrar que ainda é relevante, um clube tentando reviver seu tempo de ouro e uma torcida dividida entre a esperança e a desconfiança. Porque Neymar é um espelho: reflete o fascínio do torcedor por seus ídolos e sua frustração com suas falhas. Amam seus dribles, odeiam suas quedas, mas no fundo, querem vê-lo brilhar porque seu brilho nos lembra de quando acreditávamos mais no futebol brasileiro.
Não foi uma jornada de glória. No máximo uma tentativa de espetáculo de marketing.