Coragem demais, até ontem. Gritava, empunhava arma em plena rua, fazia vídeos, apontava dedos, erguia a voz como quem encarna a própria moral nacional. Mas quando veio o mandado, quando a lei deixou de ser discurso e virou consequência, aí sumiu. Literalmente.
A fuga de Carla Zambelli não é apenas um gesto desesperado de autopreservação. É, acima de tudo, uma metáfora poderosa da política brasileira: a valentia performática que se esfarela diante da responsabilidade real. Porque é fácil ser firme diante de um celular. Difícil mesmo é sustentar o olhar de um juiz.
Os que dizem lutar pela “liberdade” somem quando a liberdade exige dever. Os que berram por “patriotismo” abandonam o próprio território diante de um processo. E os que diziam defender a “lei” são os primeiros a correr quando ela bate à porta. Nesse teatro grotesco, o herói vira farsa e a farsa escapa pela porta dos fundos ou por um portão de aeroporto, quem sabe.
Enquanto isso, seus apoiadores aguardam ansiosamente o próximo vídeo. O próximo corte. A próxima narrativa de perseguição. Porque, no fim, o que menos importa é o fato. Importa o enredo. E, para muitos, a fuga não é culpa, é marketing.
E assim seguimos, como país, encenando bravura enquanto cultivamos covardias.