Há pouco mais de três meses, Alagoas acompanhava a primeira cirurgia de transplante de fígado realizada no estado. Operado pela equipe do Programa de Transplante da Santa Casa de Maceió, única instituição no Estado credenciada pelo Ministério da Saúde para esse tipo de intervenção, o homem de 57 anos que foi vítima de cirrose, em decorrência de uma Hepatite B, recebeu alta hospitalar no último dia 14 e segue com os cuidados em casa.
Por ser um procedimento complexo, a alta ocorre, geralmente, após duas semanas de cirurgia. Porém, cada paciente tem seu próprio tempo de recuperação. “Seu Jorge sofreu 11 anos com cirrose e vem conquistando uma nova vida a cada dia depois da cirurgia. Ele precisou ficar um mês e 15 dias internado até receber alta do hospital. Não era o esperado, mas durante esse período ele teve uma infecção pulmonar que logo foi contornada. Hoje ele está em casa, clinicamente bem, e evoluindo de forma satisfatória”, disse o cirurgião Oscar Ferro, coordenador do Programa de Transplante de Fígado do Hospital.
O primeiro trimestre é considerado o período mais difícil para os transplantados, pois é quando pode ocorrer o maior número de rejeições e de complicações infecciosas. A partir do terceiro mês, o paciente passa por exames mensais por seis meses para o controle de sua evolução clínica e da situação do órgão transplantado. Com o tempo, esses exames tornam-se mais espaçados.
Para o pleno funcionamento do programa, a família de pacientes tem papel fundamental. A doação do órgão da mulher de 43 anos, que sofreu um Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCH), deu para Seu Jorge uma nova chance de vida. “Mensagens por escrito deixadas pelo doador não são válidas para autorizar o procedimento. O processo de retirada de qualquer órgão só acontece após os familiares darem o aval da cirurgia, assinando um termo. O problema é que ainda existe a desconfiança de boa parte da sociedade de como o processo de captação acontece. Ele é feito com segurança e segue uma legislação, então o órgão só é retirado com a comprovação da morte encefálica por exames”, disse Ferro.
Ainda, segundo o cirurgião, a pandemia tem sido outro obstáculo. “Perdemos 6 ou 7 doações porque os doadores testaram positivo para a doença, o que inviabiliza que o órgão seja transplantado. Acredito que com a estabilização ou fim da pandemia, poderemos operar mais pessoas que necessitam, com urgência, do procedimento. Hoje temos 10 pessoas na lista de espera. Se aparecer um doador saudável, fazemos a cirurgia. Mas o número de doação está diretamente ligado ao desenvolvimento social do país. Quanto mais desenvolvido, mais doações são realizadas”, destacou.
Além de Oscar Ferro, a cirurgia de grande porte foi realizada pelo grupo formado pelos cirurgiões Felipe Augusto Porto e Leonardo Wanderley Soutinho, e pelos anestesistas Cira Queiroz e Danillo Amaral. Com o início das atividades do Programa de Transplante de Fígado, a Santa Casa de Maceió abraça todos os níveis de complexidade cirúrgicas com o transplante de rim e de coração.