A linguagem é uma p arte vital do processo de aprendizagem. Para algumas pessoas ela pode ser, também, uma barreira. É o caso dos surdos, que costumam enfrentar desafios nas salas de aula para compreender os assuntos. Na rede municipal de Educação de Maceió, uma equipe de mais de 100 intérpretes e instrutores de Língua Brasileira de Sinais (Libras) se dedicam em auxiliar esses estudantes, tornando a educação um espaço mais inclusivo.
Para os familiares dos estudantes da educação especial, os profissionais são vitais para a escolarização dos pequenos. Monica Ferreira dos Santos, mãe do Luiz Carlos, de 11 anos, aluno da Escola Municipal Maria Carmelita Cardoso Gama, na Cidade Universitária, diz que a Libras abriu novas portas para o seu filho, que agora sonha em ser cozinheiro.
Além das atividades na sala de aula, os instrutores da Escola estão dando aulas da língua de sinais para os familiares dos alunos, para garantir o contato contínuo dos estudantes.
A mãe avalia que o processo de aprendizado vem sendo muito produtivo para seu filho desde que ele foi incluído na educação especial. “Eu percebi que, logo no começo, ele desenvolveu muito bem a língua. Agora, na pandemia, as coisas estão um pouco mais difíceis, mas ele segue se esforçando muito”, conta Mônica.
Também mãe de um estudante da mesma escola, Erica Barros diz que, no início, não foi fácil entender a condição do seu filho, que foi diagnosticado aos 3 anos com surdez. Eduardo fez uma cirurgia que recuperou parte de sua audição, mas não desenvolveu bem a fala.
“Ele se frustrava muito facilmente e ficava nervoso quando não entendíamos ele. Com a Libras que ele está aprendendo na escola, agora podemos nos comunicar mais facilmente”, relata a mãe.
Ela aconselha as famílias com filhos com surdez a buscarem atendimento médico e matricularem seus filhos em escolas como a Carmelita Gama, que possuem estrutura para melhor atender as crianças especiais. “Os pais devem buscar o que for melhor para facilitar a comunicação e o aprendizado dos seus filhos, isso será determinante no futuro dele”, diz Erica.
Equipe dedicada
Entre mais de cem profissionais dedicados ao atendimento dos estudantes com necessidades especiais, há 13 intérpretes, dois instrutores de Libras e 11 técnicos.
Alinne Roberta é uma das intérpretes da rede, e relembrou que nesta segunda-feira (26) foi comemorado o Dia do Tradutor Intérprete de Libras. “Nós intérpretes cedemos nossas mãos, vozes e todo o corpo para passar a comunicação de forma clara e objetiva. Eu vejo o ato de interpretar como uma mágica: as mãos falam, o surdo entende e a comunicação acontece”, conta.
Convencer as famílias a matricularem os estudantes nas escolas com salas de recurso e atendimento especializado também é um desafio que perpassa o dia a dia da coordenação. Luiz Lima, intérprete desde 2013, diz que os trabalhos na pandemia são importantes para manter os vínculos com os estudantes e as famílias.
“As atividades que vêm sendo desenvolvidas envolvem projetos de literatura infantil acessíveis, comemorações de datas importantes para a comunidade surda, vídeo aulas e atividades bilíngues ensinadas em Libras. Temos também formações continuadas para intérpretes, instrutores e profissionais escolares, além de cursos de libras para os professores e funcionários e os familiares das crianças. As atividades não param, e contamos com todo o suporte para executar um trabalho de qualidade na capital”, detalha.
Metodologia especial
A Secretaria conta com várias facilidades para garantir que os estudantes surdos possam estudar e encontrar seus pares linguísticos em escolas com estrutura e profissionais bilíngues. Os equipamentos em questão contam com o Serviço de Atendimento Especializado Bilingue (SAEB), que faz o atendimento no turno contrário ao das aulas regulares, ensinando Libras e a Língua Portuguesa escrita.
Na educação especial, os alunos contam com materiais adaptados, com mais figuras e estímulos visuais compatíveis com suas realidades comunicacionais. Nas respostas, eles também podem fazer uso de vídeos em Libras. As ações incluem o transporte escolar, por exemplo, permitindo que eles possam ir até escolas mais distantes com segurança.
A oferta de cursos para os familiares do estudante também são um estímulo para garantir que, ao voltar para casa, a criança siga em contato com sua primeira língua. Conviver com seus pares linguísticos no cotidiano escolar também ajuda na inserção e autoidentificação da criança.
“A escola está muito contente em receber as crianças surdas, estamos com grandes expectativas para 2022, projetando que novas famílias e alunos possam ser matriculados, estudar e participar do projeto piloto de educação bilíngue que estamos construindo”, pontua Luiz.