Impulsionado pelo uso do cartão de crédito, o nível de endividamento das famílias de Maceió subiu para 65,3%, em março, interrompendo uma sequência de cinco meses em queda, conforme constata a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) realizada pelo Instituto Fecomércio AL, em parceria com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Na comparação mensal, o indicador aumentou 2,1% em relação aos 63,2% registrados em fevereiro, encerrando o primeiro trimestre com o maior percentual de 2022. Em 2021, o indicador cresceu 16% entre maio e setembro, sendo este o mês com o melhor desempenho do ano (71,2%).
O assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Alagoas (Fecomércio AL), Victor Hortencio, explica que parte desse endividamento tem como causa as altas nos preços. “O endividamento, por si só, não é ruim, pois permite a compra de bens duráveis e faz a economia girar. Porém, no contexto atual, ele vem impulsionado pela alta da inflação. A renda familiar permanece a mesma, mas o poder de compra vem caindo significativamente, fazendo que as famílias se endividem”, observa.
Apesar do aumento em março, os indicadores da capital alagoana encontram-se abaixo da média nacional, segundo pesquisa realizada pela CNC. Enquanto o nível de endividamento das famílias brasileiras chegou a 75,5% no mesmo período, sendo o maior em 12 anos e com inadimplência ultrapassando os 27%, em Maceió a inadimplência está em 17% e o endividamento, como já dito, em 65,3%.
No contexto geral, um fator que talvez tenha interferido na elevação do endividamento foi o aumento sucessivo da taxa de juros (SELIC). Se em março de 2021 ela era de 2,75% a.a, em fevereiro de 2022 saltou para 11,75% em fevereiro de 2022, o que acabou interferindo nos novos contratos de crédito. Além disso, a guerra da Rússia contra a Ucrânia vem causando o aumento das mercadorias e atingindo negativamente o bolso dos brasileiros.
Cartão
Em números absolutos, entre fevereiro e março houve um aumento de 6.360 na quantidade de famílias endividadas e, dentre elas, 16,8% estão com contas em atraso. Das 59,2% que possuem dívidas, o comprometimento da renda para o pagamento de parcelas ou financiamentos dura entre três e seis meses. Mais de 80% dos endividados comprometem entre 11% e 50% do salário com dívidas. “As famílias que estão com essa faixa de 50% de comprometimento da renda devem reavaliar os gastos para verem onde podem economizar, além de evitarem novas dívidas”, orienta ao reforçar que 30% é o limite indicado para o comprometimento com parcelas e dívidas.
Com 95,1% da preferência, o cartão de crédito permanece de forma quase absoluta como o principal fator gerador de dívidas das famílias maceioenses – a média nacional é de 87%. Em segundo lugar aparecem os carnês com 28,4% o que, segundo o economista, é um ponto curioso já que esta é uma modalidade antiga. “Talvez o uso do carnê seja uma alternativa ao comprometimento do limite do cartão de crédito ou resultado da própria inadimplência”, avalia Victor. Independentemente do motivo, o fato é que, desde novembro, nota-se uma estabilidade no uso dos carnês, que vêm mantendo o patamar de 28%. Em 12 meses, a utilização do carnê saltou de 17,7% para 28,8%.