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“É falácia afirmar que cinemas e streaming são concorrentes”, diz presidente da ABRAPLEX

Marcos Barros critica falso consenso e reforça que os lançamentos diretos em plataformas online são insustentáveis para cadeia produtiva da indústria cinematográfica.
Marcos-Barros
Imagem: Marcos Barros, fundador e presidente da Rede Cinesystem Cinemas
As salas de cinema e as plataformas de streaming são parceiras e não concorrentes na cadeia produtiva de negócios da indústria cinematográfica. A ideia de que competem pela atenção do público é uma falácia que ignora a dinâmica do setor, alerta o presidente da ABRAPLEX (Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex), Marcos Barros:  “A realidade do mercado em todo o mundo mostra que a mola propulsora está na primeira janela, ou seja, na exibição nas telonas”.
O argumento de Barros se sustenta na experiência imprevisível provocada pela pandemia do coronavírus (Covid-19), quando as produções cinematográficas foram paralisadas e os cinemas fechados. “Isso obrigou os estúdios a investirem em lançamentos diretos no streaming como primeira janela, criando um falso consenso de que, mais uma vez, a exibição em salas estava caminhando para o seu fim. Engano. O modelo não só se comprova insustentável para a indústria, como os números mostram que o público ainda prefere a experiência insuperável das telonas”, explica.
O presidente da ABRAPLEX salienta que grandes players do mercado como John Fithian, chefe-executivo da norte-americana NATO (National Association of Theatre Owners), David Zaslav, chefe-executivo da Warner Bros. Discovery, e Brian Robbins, presidente da Paramount Pictures, vem reforçando publicamente a importância da exibição nas telonas. “Fithian já afirmou que lançar grandes filmes com orçamentos volumosos diretamente para plataformas de streaming não é um modelo de negócios sustentável e o retorno sobre o investimento é inexistente. Robbins foi ainda mais direto ao dizer: “Precisamos do cinema para fazer o streaming funcionar”.
Hollywood – Barros elenca, ainda, outros fatores. Um deles é o fato de que o desejo de diretores e astros de Hollywood é ver seus filmes estreando nos cinemas, onde seus nomes e marcas se tornam famosos, permitindo, assim, a consolidação da carreira. “Alguém já viu uma grande franquia ou um grande astro que foram  criados no streaming? Cito outro grande nome da indústria no mundo para sustentar o que estou afirmando, Tom Rothman, presidente do conselho da Sony. Ele é enfático ao dizer que o streaming não cria estrelas de cinema e que apenas filmes de sucesso global o fazem.
O mercado, frisa o presidente da ABRAPLEX, reflete este cenário. Tanto a Amazon como a Apple decidiram que alguns de seus filmes originais serão lançados no mundo todo em uma janela exclusiva do cinema, indo depois para seus respectivos serviços de streaming: “Disney e Globo anunciaram uma parceria para a produção de filmes brasileiros. No total, serão quatro longa-metragens, com o lançamento de uma produção por ano. Os filmes devem estrear nos cinemas e ter uma segunda janela de exibição simultânea nos streamings Globoplay e em uma das plataformas da Disney, o Disney+ ou o Star+”.
Marcos Barros aponta, também, a pirataria como um dos fatores decisivos para a sustentabilidade da indústria. “Quando você lança um filme em uma plataforma digital, o crime acontece instantaneamente e com qualidade digital. Isso não ocorre nos cinemas, onde o pirata tem que filmar com uma câmera escondida, em um ambiente escuro e, consequentemente, com baixa qualidade. Isso derrubou  a bilheteria de grandes filmes, com prejuízos gigantescos para os estúdios”.
E, por fim, as questões econômicas e de marketing. “Se você lança diretamente no streaming, a receita dos cinemas é dramaticamente reduzida ou zerada. São bilhões de dólares perdidos. E não dá pra compensar isso com as assinaturas, pois a partir de certo ponto, não é mais possível aumentar o  número de novos assinantes de forma a compensar o custo de produção. Quando os estúdios lançam filmes nos cinemas, tendem a gastar milhões de dólares para promover o título e levar as pessoas a deixarem suas casas nos finais de semana de estreia. Isso gera reconhecimento para o título, o que beneficia o filme quando ele aparece em um serviço de streaming um ou dois meses depois”, explica o executivo.
Desafios – Entre janeiro e maio de 2023, o público aferido nas salas brasileiras foi de 48.678.328 e a previsão até o final do ano é de que mais de 60 milhões frequentem os cinemas. Os números e projeções mostram que o setor está se recuperando e tende até a superar resultados apresentados antes da pandemia, que registram média anual de 80.423.368 milhões entre 2017 e 2019. “São boas notícias, mas ainda temos um grande desafio: mais filmes para voltar aos níveis pré-pandemia, e isto leva tempo. Durante a reclusão social, os filmes também deixaram de ser produzidos, e os que estavam prontos foram direcionados para as plataformas online”, recorda.
O número de lançamentos é, ainda, 30% inferior ao do cenário pré-pandemia, Isso ainda impacta os negócios. “Depois de praticamente dois anos com receita próximo de zero, um alto nível de endividamento contraído durante a pandemia, e com o retorno do público ainda significativamente abaixo do período pré-pandêmico, as empresas têm pouca margem de manobra para se manter no mercado. Some esses fatores aos juros altos e à crise bancária, após o caso Americanas, e você vê facilmente o nível de risco envolvido na recuperação do setor”, explica Barros.
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